A República Federativa do Brasil em 2022 está "comemorando" o bicentenário da Independência do Brasil. Hoje graças a estudos e pesquisas temos consciência que a história da Independência do Brasil vai além dos grandes personagens conhecidos pela historiografia, ou seja, o "grito" não "partiu" unicamente da vontade de homens brancos, esse "grito" ecoou de homens e mulheres, brancos, negros e indígenas de várias partes do país.
Uma parte da história de um dos famosos caminhos do tempo do Brasil Imperial.
Diante das necessidades do escoamento dos gêneros alimentícios, do abastecimento das regiões e do florescimento do café do período Imperial, as vias de ligação entre a serra e a região litorânea, foram se expandindo e uma das vias a serem construídas foi uma estrada que saía direto do Bananal - SP, até os portos de Angra dos Reis - RJ. Essa via no início, era chamada de caminho da Freguesia do Bananal para a Ilha Grande. Depois, com o tempo e suas peculiaridades, do lado Paulista ficou conhecida como a Estrada do Ramos e do lado do Rio de Janeiro, como a Estrada da Pedra.
A estrada foi aberta a mando do governo de São Paulo e por insistência dos moradores do Bananal. Na sessão de 14 de abril de 1825 da Província de São Paulo , foi declarado o contrato da estrada com o arrematante Francisco Ramos Alvarenga, leva a conclusão que a estrada foi batizada por Estrada de Ramos em São Paulo, por causa dele que além de ser o primeiro a trabalhar na fase da dita estrada, também era morador da Serra do Turvo, por onde a estrada passava. Uma das condicionantes do lado Paulista, era que a estrada fosse feita com 50 palmos de largura e 30 palmos de roçada de cada lado, como determinava a regra geral da época. Francisco Ramos de Alvarenga, ajustou fazer a estrada do Bananal e se comprometeu a finalizar em março de 1827, pelo preço de 2:350$000, que recebeu, porém, em abril de 1829, somente a metade da estrada do lado Paulista estava feita. Naquele ano, se declarando incapaz de seguir com a obra, por ter consumido o dinheiro injetado, ele é declarado, oficialmente incapaz. Mesmo considerada uma estrada de extensão curta e de muita utilidade, em 1830, ela ainda se encontrava inacabada, porém, com um fluxo de tropas de comércio e pessoas relevantes.
Nessa nova fase do estrada projetada, o Capitão Antônio Barbosa da Fazenda Bom Retiro, responsável pelos trabalhos da estrada, nesse período com a supervisão do inspetor administrativo Comendador Luciano José de Almeida, proprietário da Fazenda Boa Vista. Entre os anos de 1832 a 1834, o caminho não estava finalizado, porém, transitável e havia um grande fluxo de tropas de comércio e pessoas, tanto que em 1837, por exemplo, foi registrado a passagem de 31. 541 arrobas de acordo com relatório do Ministério do Império do Rio de Janeiro em sua Barreira Fiscal. No lado da Província do Rio de Janeiro a estrada projetada que antes era uma picada ruim, mandada ser aberta em tempo passado pelo governo, foi batizada como Estrada da Pedra, por ter sido aberta na rocha viva, 16 braças de caminho com 20 palmos de largura, traçando o caminho, com três voltas pela rocha.
No segundo quarto do século, foi levantada pelo chefe da sessão Conrado Jacob de Niemeyer e orçada para concluir seus reparos por 500U000 réis; a província do RJ ajudou com 200U mensais, e a estrada foi feita com os esforços dos cidadãos proprietários de casas de negócios de Jurumirim e com fazendeiros do Município de Bananal, que fizeram importantes melhoramentos em seu calçamento.
Em 1858, a estrada se encontrava em estado deplorável no Estado de São Paulo, precisando de manutenção. Não só essa como outras estradas, necessitavam de constantes manutenções e havia muitas despesas com elas. Do lado de Angra dos Reis - RJ, comerciantes como João Altenfelder e o Comendador José Francisco da Silva, ficaram responsáveis por cuidar da estrada, sendo o fiador deste último, o Visconde de Estrela. Com o passar do tempo, e a chegada da estrada de ferro, a maioria dos produtos de Bananal deixaram de utilizar esse e outros caminhos, tornado a estrada desinteresse para as províncias e com isso, deixaram de fazer as manutenções e com o tempo, veio o abandono. Atualmente, na maioria do seu percurso, a mata está engolindo a estrada, toda calçada feita com cantaria e com boa execução que se perpétua ao longo do caminho, onde não passaram máquinas e não foi removido às pedras.
Quem teve a oportunidade de percorrer essa estrada, se encantou com seu trajeto saindo do Bananal, até a região do Zungu em Angra dos Reis. No início do percurso, a estrada que segue em direção a Serra do Turvo, saindo atrás da igreja Matriz, passando pela Vila Bom Jardim, ao chegar na Região do Turvo se depara com uma bela vista da Mantiqueira e as serras da região a mais de 1000 metros de altitude, saindo da Serra da Bocaina, em direção à Serra do Mar. No trajeto, passando por florestas verdes com muitos córregos pelo caminho em direção ao local conhecido como Encruzilhada, onde os caminhos se encontravam. Dá Encruzilhada, o viajante seguia em direção ao Rio do Braço onde era a divisa dos Estados e um dos afluentes do Rio Paraíba. Após cruzar o rio, passava pela região da Grama e depois virando a serra abaixo encontravam o Rio do Ronca acompanhado de belas paisagens. Depois de continuar a viagem serra abaixo e contemplando o visual da Fazenda da Pedra Branca e Jurumirim, chegavam até um ponto que tem uma bica para se refrescar e logo abaixo a "pedra cortada" e suas três voltas. Ao longo do caminho os viajantes tinham uma bela vista da baía de Cunhabebe e do Jurumirim, ao descer a Estrada da Pedra, que hoje é conhecida como Caminho do Ouro no Zungu. O caminho terminava na barreira fiscal e cada um seguia seu rumo, seja para Jurumirim ou Angra dos Reis.
O Caminho Imperial que foi pensado e construído para transportar produtos, principalmente o café, também conhecido como "ouro verde". Atualmente esse caminho está sepultado na serra e é desconhecido pelas novas gerações. É preciso resgatar sua memória, suas histórias e seu traçado para que o povo possa percorrer novamente esse caminho que fez parte do desenvolvimento do Brasil Imperial, gerou tantas riquezas, muito suor derramado dos operários e principalmente a dor e sofrimento dos escravizados que "trabalharam" na construção do caminho.
Um povo sem memória é um povo sem..............
Texto: Emília Lodewijk
Pesquisa: Emanuele Calago e Erich Aguiar
Imagens: Emanuele Calago
Fonte: sessões da Câmara das Províncias de São Paulo e Rio de Janeiro ( 1825 - 1839).
Agradecimentos: Dr. Breno Aparecido Servidone Moreno, História Social - (FFLCH-USP).
Data: 14/09/2022