Que escalador que frequenta a Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí, nunca ouviu falar do “Pudim”? Quem conhece um pouco da história do lugar com certeza já ouviu esse nome!
José Luiz Pauletto “Pudim” foi um dos pioneiros da escalada brasileira nos anos de 1980 e 90 e abriu algumas vias clássicas no complexo, como “V de Vingança” (1990), em parceria com Eliseu Frechou, o qual conheceu no Clube Alpino Paulista; e “Distraídos Venceremos” (1992), também em parceria com Frechou, Bito Méyer e Edson Struminski (Du Bois).
Pudim, falecido em 2020 aos 62 anos, decorrente de complicações com a doença de Alzheimer, foi o primeiro brasileiro a subir a The Nose (1983) na icônica parede El Captain em Yosemite, época a qual morou em San Diego, Califórnia. Também foi o primeiro brasileiro a subir o Monte MacKinley no Alasca (1984) e a primeira tentativa brasileira de escalada do Fitz Roy (1987), porém essa sem sucesso após perder quase todo seu equipamento em uma avalanche.
Pudim também foi o recordista de subida do Aconcágua em apenas 5 horas e 29 minutos em 1996, recorde esse que durou por 4 anos até que uma equipe de italianos o superasse.
Com todo esse currículo invejável de conquistas, não é de se estranhar que além do montanhismo, Pudim se aventurasse em outros esportes igualmente “novos” para a época, a exemplo do parapente.
Recentemente conversando com o amigo Eliseu Frechou, ele comentou que Pudim havia decolado de parapente do cume da Pedra do Baú ainda na década de 80.
Com meu crescente interesse pelo voo de montanha e busca das poucas informações de que se tem relato desta época, eu não poderia deixar essa informação valiosa e histórica se perder e por isso corri atrás do Eliseu, para que encontrasse as tais fotos que ele havia mencionado!
Portanto acredito que este seja o primeiro relato desta decolagem e que sem dúvida foi um grande marco para o Hike and Fly brasileiro, numa época tão embrionária do esporte.
O voo aconteceu em meados de 1989. Eliseu Frechou, Saulo de Tarso e o Pudim, acessaram o cume da Pedra do Baú pelas escadas (via ferrata), com um equipamento absolutamente rudimentar, se comparado aos modernos gliders atuais; (segundo análise do piloto e instrutor Eduardo Moraes, muito provavelmente um ITV Kestrel, de origem francesa).
Bastante temeroso durante toda a subida, Pudim abriu seu paraglider logo ao lado dos alicerces que restou do antigo refúgio de montanha, construído no início da década de 50, e com condições ideais decolou para o primeiro voo a partir do cume de que se tem notícias.
Sem relatos do voo e local do pouso, sabe-se obviamente que foi bem sucedido!
Se em 1989 montanha e glider já andavam de mãos dadas, cada vez mais vemos montanhistas virando pilotos e vice-versa! Que o Hike and Fly cresça ainda mais por aqui!
Boas escaladas, bons voos!
Data: 18/10/2021