A alcunha de “Cidade Poema”, oficializada por decreto do Governo do Estado de São Paulo em julho de 2022, ajusta-se bem à Estância Climática de Santa Rita do Passa Quatro, distante 85 km de Ribeirão Preto e 263 km da capital. Percebe-se que a cidade respira arte e cultura logo que se entra por sua avenida principal, acessada pela rodovia Zequinha de Abreu – codinome do mais ilustre de seus “filhos”, o compositor José Gomes de Abreu, conhecido principalmente pelo chorinho “Tico-Tico no Fubá”, considerada uma das músicas mais tocadas no planeta.
O imponente santuário de Santa Rita de Cássia, datado de 1900, é o que primeiro salta aos olhos, com sua arquitetura neogótica, vitrais artísticos e pinturas sacras do artista ítalo-brasileiro Nicolau José Biagimi. Fica na Praça Zequinha de Abreu, cravada no coração de um centro histórico composto por ruas de paralelepípedos perfeitamente conservadas e limpas, monumentos arquitetônicos do século 19 e um casario antigo preservado no estilo arquitetônico eclético tardio, característico da vinda da ferrovia.
Segundo a atual gestora de cultura da prefeitura de Santa Rita, Graziela de Cássia Villela, algumas casas ainda preservam suas telhas importadas de Marselha (cidade francesa). Com piso de pedrinhas portuguesas, a praça abriga ainda um busto do compositor – onde repousam seus restos mortais – e uma concha acústica com um mural construído pelo artista plástico Mirinho, também em homenagem a Zequinha. No mesmo quarteirão fica o Centro Cultural e Museu José Spadon, construção do italiano Salvatore Di Maggio iniciada em outubro de 1885 e inaugurada em 6 de março de 1891, onde já funcionou a Cadeia Pública, a Câmara Municipal e o Fórum. O encerramento das atividades no local ocorreu nos anos 2000, e em 2020 o prédio foi completamente restaurado, tornando-se um centro cultural que carrega o nome de um dos grandes semeadores do progresso de nosso município.
A profusão de eventos e ações artístico-culturais realizadas durante todo ano fortalece o perfil cultural da estância turística. Começa com o Carnaval, em fevereiro, prossegue com a Semana Artístico-Cultural Salvador Pujals Sabaté (março), o evento de Ferreomodelismo (abril), o Aniversário da Cidade e Festa da Padroeira Santa Rita de Cássia (maio), o Festival de Tradições Italianas (julho), o Festival Zequinha de Abreu (setembro), a FAPIS (Feira Agropecuária, em outubro), a Semana do Músico (novembro) e o Natal Esperança (dezembro), só para citar os maiores.
Para Grazi Vilela, a geografia do município exerce influência sobre as tendências artístico-culturais dos santa-ritenses, por favorecer um olhar sensível para suas belezas naturais. “O que desperta e inspira criações artísticas, sejam elas musicais, plásticas, literárias, visuais, entre outras, além de termos a visão de cultura como um campo protagonista do desenvolvimento econômico e social”, afirma.
Qualidade de vida
Fundada quatro anos após Ribeirão Preto, Santa Rita do Passa Quatro manteve um ritmo lento de crescimento demográfico. Segundo dados de 2021 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cidade soma atualmente 24.833 habitantes, distribuídos por uma área de 754,141 km2. Nos feriados prolongados e datas festivas, porém, esse número quase dobra com a vinda para casa de estudantes, visitas a familiares por nativos que fizeram a vida fora, e turistas que desfrutam das atrações do município.
Belezas naturais como as cachoeiras Três Quedas e São Valentim, o Deserto do Alemão, o Jardim do Lago, o Morro Itatiaia e o Parque Estadual Vassununga estão entre as atrações, mas também há o apelo dos esportes radicais como Skatepark, as rampas de voo livre e as trilhas de mountain bike.
A baixa variação populacional – às vezes para baixo – dos últimos anos é explicada pela falta de universidades no município, que faz os jovens mudarem-se para cursar faculdade fora, principalmente em Ribeirão Preto. “Muitos deles fazem a vida fora, mas muitos também voltam a viver aqui, após aposentados”, comenta o secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura, João Alexandre dos Santos.
De acordo com o prefeito, Marcelo Simão, empossado em janeiro de 2021, este movimento de volta para a cidade na idade madura é muito comum e se explica pela qualidade de vida no município, que desfruta de um IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de 0,761 (pontuação máxima é 1), ranqueado entre os mais altos da região metropolitana. “Isso faz não só aqueles que deixam Santa Rita para fazer a vida fora voltarem como também atrai pessoas que se apaixonam pela cidade, após um passeio. Eu sou da Engenharia Civil e já construí muitas casas para pessoas que vieram conhecer a cidade e acabaram se estabelecendo por aqui”, conta.
Cidade do Doce
De acordo com o empreiteiro e construtor aposentado Adão Nildo Leme de Souza, morador antigo e um estudioso da história da cidade, Santa Rita do Passa Quatro também é conhecida fora de seus limites pelos doces caseiros fabricados em pequenos e médios negócios pela cidade. “Aqui nós temos indústrias de doces famosas. Somos riquíssimos nisso. Sempre que vamos a médicos em Ribeirão Preto levamos uns docinhos daqui e somos super bem tratados. Nossos doces são muito apreciados”, orgulha-se.
A profusão desses pequenos negócios na cidade levou a administradora de eventos Ana Cristina de Oliveira a elaborar um projeto de lei, que foi aprovado por unanimidade na Câmara Municipal, reconhecendo o “fudi” – doce típico feito à base de amendoim, leite e açúcar – como Patrimônio Histórico e Cultural de Santa Rita do Passa Quatro e criando o Dia do Doceiro, em 23 de maio (um dia após o aniversário da cidade) e a Casa do Doce, um empório com produtos artesanais para venda da produção de doceiros e de outros artesãos da cidade, como queijeiros e fabricantes de imagens, por exemplo.
A data refere-se ao falecimento de José Piran, que começou a vender o fudi pela cidade, de bicicleta, há 70 anos. “Todo mundo tem uma história afetiva com o fudi, inclusive eu. No dia da votação do projeto, cada vereador que foi comentá-lo também compartilhou uma memória sua envolvendo o doce”, diz Cristina.
UM NOME, MUITAS VERSÕES
José Geraldo de Oliveira narra em “História de Santa Rita do Passa Quatro”, a história do nome de Santa Rita do Passa Quatro. Entre os primeiros desbravadores da região estava o casal formado pelo capitão Gabriel Porfírio Villela e Rita Joaquina Maciel, vindos de Minas Gerais. Eles chegaram em 1839, já com a intenção de fundar um povoado, a partir de uma capela que pretendiam erguer em suas terras. Seguindo indicação do então vigário Jeremias José Nogueira, foi escolhido como local para a construção um terreno circundado por três braços de um mesmo córrego, chamado Passa Quatro. A capela de Santa Rita teria sido erigida em 1856, em terreno doado por Rita Ribeiro Vilela, devota de Santa Rita de Cássia.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O pendor artístico cultural da população santa-ritense também pode explicar a profusão de decanos dedicados ao estudo da história da cidade, como José Geraldo de Oliveira, Argemiro Octaviano e Adão Nildo Leme de Souza. Eles próprios foram testemunhas de muitos acontecimentos marcantes da história da cidade.
De acordo com esses historiadores, as origens do município remontam à chegada de sertanistas vindos de Minas Gerais, em meados do século 19, que ocuparam terras e estabeleceram fazendas, nas quais vários descendentes de portugueses – também vindos de Minas – se estabeleceram mais tarde, já com a intenção de fundar um povoado. Entre eles estavam os fundadores da cidade, Ignácio Ribeiro do Valle e Francisco Deocleciano Ribeiro.
Segundo Adão Nildo Leme de Souza, os primeiros fazendeiros dedicaram-se ao cultivo de cereais e o estabelecimento de uma bacia leiteira. Depois veio a pujante cultura cafeeira, que trouxe também a ferrovia, por onde chegaram os imigrantes italianos, cujos descendentes representam, hoje, 80% da população na cidade.
Oficialmente, a fundação do município data de 22 de maio de 1860, instituída pela Lei nº 13 de 1937.
Informações
População: 24.833 mil hab.
Área: 754,141 km²
PIB: R$ 31.335,03 mil
Distância da capital: 263 km
Data: 21/06/2024